quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A Incoerência Hetero


Foliões heterossexuais em carnaval do RJ

Hoje é o primeiro dia do ano, feriado de Confraternização Universal. Dia em que todos, a princípio, revêem seus próprios paradigmas, revisam antigas atitudes a fim de começar o novo ano com mais maturidade e mais consciência.

No início da tarde de hoje, ao ir para a casa de meus pais, passando próximo à praça da esquina, deparei-me com uma cena inusitada: uma partida de futebol em que todos os participantes estavam maquiados e travestidos. A partida transcorria alegre, como uma grande festa. E era, de fato, uma festa de confraternização pelo ano que nasce. Naquele momento, creio que fui tomado por um certo sentimento heterofóbico! Risos... Sim, pois não consigo entender como um grupo pode celebrar e consagrar os homossexuais em alguns momentos e agir com violência contra eles em outros momentos. Como entender que a mesma celebração se torne em violência?

Não estou aqui generalizando o comportamento das pessoas de orientação heterossexual, apenas expondo a atitude de muitos, completamente incoerente.

Impossível não me recordar da excelente matéria (de capa) veiculada pela Revista Época – Março de 2011, cujo título era: “Amor e ódio aos gays”. Olead da reportagem não poderia ser mais claro: No carnaval, o Brasil aceita, imita e consagra os homossexuais. Por que, no resto do ano, há tanta violência contra eles?

Em 2012, estima-se que 252 homossexuais foram assassinados. Orientação sexual dos assassinos? Heterossexual! Quase uma morte por dia. Motivo? Intolerância, homofobia!

Ahmadinejad (Irã) e Mugabe (Zimbábue) perseguem oficialmente os homossexuais
É notório o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil. Natural seria que, com o avanço dos cristãos, os direitos humanos fossem ampliados. Mas não é isso que acontece. O que essa igreja tem feito diante desse quadro? Infelizmente a Igreja, de onde a voz que protege a minoria desvalida deveria sair, tem lutado contra todo e qualquer projeto de Lei que torne a homofobia crime no Brasil. Não fossem as bancadas evangélica e católica, tanto no Senado quanto na Câmara, nosso país já teria avançado, e muito, nos direitos humanos para a comunidade LGBT. O amor pregado pelos cristãos tradicionais não encontra lugar quando o assunto é o combate à homofobia. Os maiores mandamentos (confira Mateus 22.37 a 39) são reduzidos apenas ao discurso, não refletindo no principal, ou seja, nas atitudes.

É tempo de reforma eclesiástica! Vidas são ceifadas, e com o aval da Igreja! Não tenho dúvidas de que Deus olha com tristeza e indignação lá do céu cada vez que um cristão luta para perpetuar a intolerância, para suprimir direitos essenciais, como a proteção do Estado às minorias.

Torno a dizer: a Igreja não precisa mudar suas crenças para aceitar a homossexualidade, os homossexuais e seus relacionamentos afetivos; precisa apenas pôr em prática sua pregação, seu discurso e começar a respeitar o ser humano homossexual em sua integridade, olhando-o com o olhar de Deus. Precisa ver em cada homossexual a imagem e a semelhança do Criador. A Igreja deveria lutar pela proteção de todo ser humano acima de qualquer particularidade que este possua.

A Bíblia, escrita há centenas de anos – mas de uma atualidade incrível – já se indignava com líderes religiosos que agiam assim:

Seus líderes são vira-casaca que preferem a companhia dos corruptos. Eles se vendem a quem der o lance maior... Nunca levantam a voz em favor dos sem-teto, nunca se apresentam em favor dos indefesos”. Isaías 1.22 e 23. (Bíblia A Mensagem)

Entretanto, como ocorreu no tempo do Profeta, temos de Deus uma promessa:

“Vou pôr juízes honestos e conselheiros sábios entre vocês, como era lá no início. Então, vocês serão famosos, A Cidade Que Trata Bem O Povo, A Cidade Correta.” Isaías 1.26 (Bíblia A Mensagem)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Lançamento do novo Livro da Editora Metanoia na 11ª Feira Cultural LGBT no Vale do Anhangabaú

Estado e Religião

Programação da APOGLBT visa refletir sobre as relações entre religião, Estado e sexualidade e aprofunda discussão acerca do tema escolhido para a Parada LGBT deste ano, "Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia!"
09/06/2011



A APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo) realiza no próximo Sábado (11), 9h, o terceiro dia da série do 9º Ciclo de Debates. Atividade integrante do 15º Mês do Orgulho LGBT de São Paulo, de 6 de junho a 6 de julho, o público confere gratuitamente diversas mesas de discussão, além de seminários, apresentações culturais e lançamentos. A 9ª edição do Ciclo vem aprofundar a reflexão acerca do tema proposto para a 15ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo: “Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia! – 10 anos da Lei 10.948/01, rumo ao PLC 122/06”.

Em diálogo com a atual conjuntura nacional e internacional na esfera dos Direitos Humanos de lésbicas, gays bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), a programação propõe uma reflexão participativa entre os movimentos sociais, sociedade civil, autoridades e os expoentes dos mais diversos campos da intelectualidade.

Entre os assuntos, destaque para o posicionamento do Estado em relação ao fundamentalismo religioso, o papel da espiritualidade na construção das sexualidades e o redimensionamento dos aspectos jurídicos de instituições como família, casamento e os direitos para as minorias definidos através de políticas públicas.

Em consonância com a Organização das Nações Unidas (ONU), que decretou 2011 como o Ano Mundial do Afrodescendente, o 9º Ciclo de Debates aborda também a relação entre a cultura negra e a diversidade sexual.


Estado e Religião

Sob o tema “Estado e Religião”, a atividade que será dividida em três mesas de debates, ocorre no próximo dia 11 de junho (sábado), às 9h, na Câmara Municipal de São Paulo – Palácio Anchieta – Viaduto Jacareí, 100.

Com mediação da coordenadora do Ciclo, Cléo Dumas, a primeira mesa que conta com a participação da pesquisadora associada do Núcleo de Estudos para Prevenção da AIDS (NEPAIDS/USP), Cristiane Gonçalves da Silva, questiona: “O Estado faz acepção de pessoas?”. No segundo horário, em “Religião e LGBT”, Greta Star recebe o presidente da APOGLBT Ideraldo Beltrame e o Diácono da Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo, Dario Neto. Na última mesa de debate, mediada por Fernando Quaresma (Vice-Presidente da APOGLBT), a proposta de uma discussão conjunta com autoridades e líderes espirituais de diferentes religiões.  “O Pecado da Religião e a divindade do corpo” conta com a presença da Iyalorixá Egbomi Kiusam d'Oxóssi - Kiusam de Oliveira, do pastor da Comunidade Betel/ICM RJ e da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo Márcio Retamero e do Padre James Alison.  Após os debates, atividade cultural integrante do LeFest e coffebreak.

Todas as atividades do 9º Ciclo de Debates são gratuitas, abertas ao público em geral e acontecem em diversos locais de fácil acesso.


Transmissão ao vivo pela web

Uma parceria inovadora entre a APOGLBT e a empresa UCam Digital Transmission irá proporcionar a primeira transmissão ao vivo e integral do Ciclo de Debates. Lançado no último dia 1º, a webtv BeGay TV fará a cobertura em tempo real de todas as mesas, possibilitando a participação de pessoas de todas as partes do mundo.

Para acompanhar, basta acessar o site da BeGayTV: www.beweb.tv/begay. Os usuários podem ainda enviar perguntas e fazer comentários através do Facebook.

Além do 9º Ciclo de Debates, a programação do 15º Mês do Orgulho LGBT de São Paulo reúne a 11ª Feira Cultural LGBT (23 de junho, no Vale do Anhangabaú), o 11º Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade (24 de junho, na Academia Paulista de Letras) o 11º Gay Day (25 de junho, no Playcenter) e a 15ª Parada do Orgulho LGBT (26 de junho, na Avenida Paulista).

Confira a programação das duas primeiras mesas do Ciclo. Para mais informações, acompanhe o site http://www.paradasp.org.br/.

Fonte: APOGLBT

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Amai-vos uns aos outros: Basta de Homofobia por Marcio Retamero

Está aberto o debate polêmico em torno do tema escolhido pela APOGLBT para a maior Parada do Orgulho do mundo, a de São Paulo!

De um lado, temos os que consideram a escolha do tema um equívoco; de outro, os que ponderam no atual contexto sócio-político brasileiro e conseguem enxergar no tema escolhido uma oportunidade, talvez pela primeira vez, de enfrentar o fundamentalismo religioso, que tanto mal tem feito às pessoas LGBT e às instituições políticas do nosso país.

Eu estou entre os que enxergam na escolha do tema a oportunidade de tratarmos publicamente, de maneira séria e responsável - e coletivo-democrática - sobre o espinhoso e maléfico fundamentalismo religioso de vertente "cristã". Na verdade, creio que passamos da hora de enfrentar este tema e debatê-lo publicamente!

Lamento os que enxergam na escolha do versículo bíblico cristão um equívoco e até entendo o temor de misturar temas como homofobia e religião ou reivindicação de direitos e religião, mas não creio que a intenção da APOGLBT seja misturar os temas, mas denunciar, usando a Lei do Amor transmitida por Jesus, a prostituição nefanda e nojenta que assola o Brasil nos nossos dias e que tem minado o avanço das agendas de Direitos Humanos em nossa pátria: o casamento nefasto de política e religião, ou melhor, o uso da religião para instalar entre nós um Estado Teocrático de fato, mas não oficial.

É urgente este debate em torno do uso da religião pela política e do assalto pela vertente fundamentalista religiosa das instituições democráticas no Brasil e creio que é exatamente isso que a APOGLBT deseja com a escolha do tema em questão. Se alguém duvida do debate urgente e necessário desse tema, precisa de colírio dos bons ou de coragem para publicamente assumir que alguns desejam a manutenção do atual estado das coisas entre nós, motivados, talvez, pelo tal senso de autopreservação. Leia Mais...

Marcio Retamero: é teólogo e historiador, mestre em História Moderna pela UFF/Niterói. É pastor da Comunidade Betel/ICM RJ e da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo. É autor de "O Banquete dos Excluídos" e "Pode a Bíblia Incluir?"

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Eunuquismo e homossexualidade: uma releitura bíblica

Eunuquismo e homossexualidade: uma releitura bíblica

O ator André di Mauro como o eunuco Hegai na minissérie A história de Ester, exibida pela Record.


É consenso que a Bíblia não apresenta o conceito de homossexualidade tal qual o conhecemos. Entretanto, há relances que aludem implicitamente aos homossexuais nas Escrituras. Essa constatação é possível na figura dos eunucos. Não estou afirmando que o eunuquismo e a homossexualidade são termos sinônimos. Esses homens ocupam uma posição especial em Isaías 56, representando a classe dos sexualmente excluídos na Antiga Aliança, entretanto, o profeta os destina a uma promessa grandiosa de inclusão ao povo de Deus.
A figura do eunuco é decisiva nas palavras de Jesus no relato de Mateus 19.12. Visto que o único modelo de casamento da época era heterossexual, é óbvio que Cristo não poderia fazer qualquer referência a relações homoafetivas. A noção de orientação sexual na cultura judaica inexistia, Cristo usou um conceito que para nós seria rudimentar, mas que se relaciona diretamente à homossexualidade. Como assim?

Embora a história ateste alguns casos de relações homossexuais envolvendo eunucos, o conceito geral da Antiguidade Judaica era o de que eunucos não se casavam. Isso se relacionava intimamente à sua função primordial, não única: a guarda das mulheres. Cristo separa muito bem os tipos de eunucos: os de nascença; os feitos pelos homens; e os que se fazem eunucos pelo reino. A nós interessa o primeiro tipo: o eunuco de nascença.

A análise do termo usado por Cristo deve ser feita de acordo com o contexto sociocultural e linguístico da época. Os judeus conheciam dois tipos de eunucos de nascença, chamados especificamente de “eunucos do sol”. Eram assim chamados, pois nunca viram o sol sob outra condição, a não ser a de eunucos. Os eunucos do sol podiam ser homens com problemas congênitos ou homens sem libido que os impossibilitava ao casamento com uma mulher.

Segundo o Talmude, tais eunucos se caracterizavam pelos modos frágeis e femininos. Clemente de Alexandria, um dos pais da Igreja (século II), reafirmou que a visão judaica sobre tais eunucos os associava a homens que naturalmente se afastavam das mulheres. Esse “afastar-se naturalmente das mulheres” não indica apenas a falta de libido puramente, mas indica a falta de libido POR MULHERES. O contexto da fala de Jesus é o casamento heterossexual. O Novo Testamento judaico (Editora Vida) se refere aos eunucos de nascença como homens que nasceram sem o desejo deste casamento, ou seja, entre homem e mulher. Parece-me bastante claro que os eunucos do sol também incluíssem os homossexuais, ou melhor, se refiram a eles já que estes são bem mais numerosos que homens congenitamente incapazes. Sendo assim, a homossexualidade torna-se inata e isenta de pecado. Sabe-se que a homossexualidade pode ter vários fatores em sua constituição, porém, a experiência dos homossexuais a situam ainda na infância, quando não há condição de escolhas sexuais conscientes. Embora a ciência apresente apenas indícios da origem da homossexualidade, o conceito de Cristo é o que deve prevalecer para o cristão homoafetivo.

Como percebemos, Cristo falou sim sobre pessoas homossexuais, não com a mesma complexidade que conhecemos hoje, claro, o mais importante é que ele não atribuiu nenhum caráter pecaminoso à condição sexual de tais pessoas.

Mais detalhes sobre o tema estão disponíveis no livro Bíblia e homossexualidade: verdade e mitos.

Por Alexandre Feitosa.

Portugal suspende casamento gay na embaixada brasileira

Portugal suspende casamento gay na embaixada brasileira
Embaixadas de Portugal em países em que casamento gay é proibido não poderão mais realizar a união

O Ministério dos Negócios Estrangeiros bateu o martelo e suspendeu o casamento gay nas embaixadas que ficam em países onde casamento gay não é permitido _isso inclui o Brasil. Por aqui, o consulado português que fica em Belo Horizonte já havia negado uma união entre português e brasileiro, enquanto o Consulado português do Rio de Janeiro permitiu uma união nestes termos. Por ora, com a decisão do governo português, a embaixada portuguesa no Brasil está proibida de realizar casamento gay.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros determinou por circular enviada a todos os postos consulares, “suspender, até instruções em contrário, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo a celebrar em países onde esta modalidade não é legalmente admitida”.

Logo após a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal, o mesmo Ministério comunicou aos postos consulares que a celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo era válida “em Portugal e perante os agentes diplomáticos e consulares portugueses em país estrangeiro, mesmo que ambos os nubentes ou um deles seja nacional de Estado que não admita esse tipo de casamentos”.

Essa posição foi revogada agora, depois que diversos postos consulares de Portugal (como o Brasileiro, mas também o de Marselha, por exemplo), se negaram a realizar união binacional.